O Projecto multi-modal do porto da Figueira da Foz
O projecto multi-modal do porto da Figueira da Foz nasceu em 1996, quando se pensou uma nova estratégia de transportes para Portugal, a qual veio a afirmar-se, em 1997, com a publicação do “Livro Branco da Política Marítimo-Portuária rumo ao Séc. XXI”.
Os conceitos de multi e (sobretudo) de inter-modalidade não têm a ver unicamente com a localização no mesmo espaço de vários tipos de transporte.
Tratando-se de um terminal onde se processam cargas, descargas e trocas de mercadorias, o objectivo principal é o de alcançar economias de escala, tirando partido da maior carga do transporte marítimo (menor custo por unidade de carga a maior distância), da capacidade e rapidez de penetração continental (transporte ferroviário) e da maior flexibilidade nas distribuições regionais (transporte rodoviário).
Mas, o que se trata de facto é conseguir que diferentes tipos de transporte se harmonizem tecnicamente, por forma a haver idênticos procedimentos de carga e descarga (transbordos), utilizando equipamentos similares ou compatíveis.
A competitividade na redução dos custos operativos também exige a simplificação dos procedimentos administrativos e alfandegários por parte de autoridades portuárias, aduaneiras e outros agentes e entidades envolvidos no processo.
Um rumo seguro para o desenvolvimento do projecto assenta na diversificação da oferta que actualmente está muito dependente dos granéis sólidos e das exportações das celuloses. É, pois, desejável que as características de SSS (“Short Sea Shiping”) se imponham e que os contentores se afirmem cada vez mais no movimento portuário (como parece ser o caminho com a recente actividade da Ibero Linhas e da Liscont na Figueira da Foz), bem como certos nichos de mercado não explorados (o turismo marítimo, por exemplo).
No momento em que já foram investidos muitos milhões de euros na melhoria da eficácia do porto da Figueira da Foz, parece-nos que há aspectos essenciais da plataforma multi-modal que têm de ser resolvidos para que o projecto não venha a tornar-se um “elefante branco” sem viabilidade. Até porque um duro caminho já foi percorrido, uma vez que a estrutura portuária exigiu vastas transformações territoriais, com impactes ambientais profundos em toda a bacia do Baixo Mondego e na zona costeira.
Uma das intervenções mais importantes, negociada com êxito pela actual autoridade portuária, é o prolongamento do molhe norte. Essa obra permitirá criar condições de navegabilidade mais seguras no acesso aos cais.
Além disso, existem agora e estão em marcha novas acessibilidades terrestres que potenciam a inter-modalidade dos transportes.
Sendo assim, exige-se visão de futuro e que haja arrojo por parte de todos os protagonistas (governo, autoridades portuárias e operadores), de modo a que seja concretizado um verdadeiro terminal inter-modal , levando as estruturas rodoviárias e ferroviárias para o espaço físico do porto, com serviços especializados, diversificação de produtos e imagem de qualidade.
Como se percebe, este é um projecto com efeitos estruturantes no desenvolvimento económico e na afirmação da região centro, potenciando múltiplas conexões territoriais e espaciais e beneficiando outros sectores portuários (pescas, estaleiros navais e náutica de recreio) que podem gerar novas atractividades.