Duas Universidades em vias de extinção
Ter uma Universidade é uma mais valia para qualquer comunidade porque pode constituir um motor de desenvolvimento sustentado, desde que a Universidade não se restrinja apenas ao ensino.
De facto, compete à Universidade «oferecer» ensino altamente qualificado e exigente, mas também investigação científica internacionalmente reconhecida, inovação tecnológica e prestação de serviços especializados à comunidade. Estes objectivos só são concretizáveis com:
a) Um corpo docente altamente qualificado (doutores e mestres) com experiência de investigação científica e de coordenação de projectos financiados por instituições credíveis;
b) Unidades de investigação reconhecidas e com bolseiros de I&D (Investigação e Desenvolvimento), bem como instalações e equipamentos adequados (ex.: laboratórios, multimédia, etc.).
É preferível não ter Universidade num concelho se não se conseguir um projecto com estas características. Caso contrário, será um fardo para todos, na medida em que viverá de expedientes e de apoios estatais, nada oferecendo à comunidade para além do ensino. E será um embuste porque não assegurará a qualidade dessa oferta de formação.
Por outro lado, a instalação de unidades de ensino superior deverá ter em conta a oferta nacional, a oferta próxima e as necessidades do concelho em que é implantada. Por exemplo, não faz sentido ter uma Universidade que ofereça Direito ou Engenharia Química num concelho que naturalmente estará vocacionado sobretudo para o turismo e o mar e que está muito perto de duas Universidades públicas que possuem essas ofertas.
É verdade que as políticas dos sucessivos governos e de muitas autoridades académicas públicas nunca foram no sentido do desenvolvimento de um ensino superior privado de qualidade. Basta conhecer as restrições que os docentes das Universidades públicas têm relativamente à colaboração com as Universidades privadas. Mas, também é verdade que a gestão da maior parte das universidades privadas tem sido inadequada. Em muitas delas não se consegue identificar uma cultura organizacional universitária.
O efeito de todos estes factores está à vista: as Universidades privadas deste país correm sérios riscos de fecharem as suas portas muito em breve e, na maioria dos casos, não deixarão nenhum legado para além de licenciados de papel e lápis.
Paradoxalmente, num concelho medianamente povoado como é o da Figueira da Foz existem duas Universidades privadas que, fruto da conjuntura, têm agora um futuro incerto.
É notícia em órgãos de comunicação social que o pólo da Universidade Católica fechará, não sendo muito claro para os munícipes que destino terão os terrenos cedidos pela autarquia para a construção do seu campus universitário.
Relativamente à Universidade Internacional (UIFF), a Câmara Municipal parece não assumir compromissos para assegurar obras estruturais (as benfeitorias são da responsabilidade da UIFF), pelo que aquela corre o risco de cessar a actividade.
É lamentável que investimentos desta natureza sejam perdidos. Mas, também não se deve fazer uma tempestade num copo de água. Há alternativas mais sustentáveis que, de há muito, poderiam ter sido concretizadas.
Tendo em conta a proximidade de duas grandes Universidades públicas (Coimbra e Aveiro), a dimensão do nosso concelho e a política nacional e europeia para o ensino superior, seria mais correcto instalar na Figueira da Foz unidades de I&D associadas a empresas e a laboratórios que têm projectos com essas Universidades públicas.
A Universidade de Aveiro foi recentemente classificada em primeiro lugar no ranking nacional relativamente à produção científica, tem várias patentes registadas, uma forte conexão com o tecido empresarial e é igualmente conhecida pelo seu protagonismo nas questões do ambiente e das ciências do mar.
A Universidade de Coimbra também possui várias patentes registadas, é conhecida pela investigação médica de ponta, tem dado fortes contributos nas ciências do ambiente, além de ser uma referência nas áreas do direito penal e do direito constitucional.
Assim, considerando este potencial tão próximo de nós, pergunta-se:
Não é melhor para a Figueira da Foz possuir um pólo de uma destas Universidades públicas (Aveiro ou Coimbra), centrado exclusivamente no ensino pós-graduado em unidades de I&D de interesse para a economia e para a comunidade local?
A aposta seria a criação de um Instituto de Investigação Científica com valências na investigação de ponta, na inovação tecnológica e na intervenção técnica aplicadas ao mar e aos recursos marinhos, à hidrologia, à floresta, ao ordenamento do território, às mudanças climáticas, à biotecnologia, às energias alternativas, à exploração científico-turística dos patrimónios geológico, histórico e ambiental. Enfim, um Instituto que apoiasse empresas, organismos e autarquias de um modo altamente qualificado, exportando conhecimento e atraindo investimentos.
Já perdemos tempo demasiado com soluções provisórias, dispendiosas e que desperdiçam energias essenciais ao desenvolvimento.
13 Comments:
A autarquia não sei que partidos é a responsável pela extinção das universidades e das lagoas de quiaios
Completamente de acordo.
Acabe-se o interesse político instalado e que instala amigos nas privadas, ( leia-se pagamentos de favores a autarcas com lugares "cativos" em admnistrações nas mesmas),acabe-se com a malévola influência da maçonaria nestes círculos, tudo isto e mais, sustentado pelos dinheiros públicos.
É interessante ler este "post", mas mais interessante seria perceber o que está por detrás do mesmo.
É do conhecimento geral que a GRANDE MAIORIA dos docentes nas Universidades Privadas, são os mesmos (exactamente os mesmos) que dão aulas nas Universidades Públicas! Conclui-se que se os alunos formados nas Univ. Priv. são "licenciados de papel e lápis", os das Univ. Públicas, serão licenciados de lápis e papel.
Por outro lado, sou da opinião de que não será um factor crítico de sucesso, não haverá mais aproveitamento/sucesso escolar se for a geografia ou a especificidade do concelho a determinar qual a especialidade que vai ser leccionada nesse local. A ser assim, em Coimbra não deveria haver licenciaturas em Agronomia, nem Engenharias. Em Évora só devia haver Agronomia e Arquitectura Paisagista. Em Aveiro só devia haver Engenharias e "valências na investigação de ponta" e todas as outras indicadas.
Propor, ou simplesmente vislumbrar a possibilidade de criar na Figueira uma Universidade virada para o Turismo, só porque a Figueira está vocacionada para o Turismo, é, no mínimo, discutível.
Estará mesmo a Figueira vocacionada para o Turismo??? Porquê? Apenas porque temos um Casino e vários kilómetros de Praia (por sinal espectacular)...
Enfim, como em tudo o que se passa neste País, as medidas a tomar são como as modas - primeiro estava tudo (Univ. Públicas) centralizado em Lisboa, Porto e Coimbra. Depois foi a descentralização das Universidades e o nascimento de inúmeras Univ. Privadas. Agora o que está a dar, é a criação de Pólos das Univ. Públicas...
Mais uns anos (e meia dúzia de governos diferentes) e voltamos ao tempo de Tele-Escola.
Felizmente (porque tenho possibilidade para isso) o meu filho estuda num País do Norte da Europa, onde não se brinca com o dinheiro dos Pais que pagam para os filhos poderem ter um Curso Superior e não uma licenciatura de "papel e lápis".
Concordo em absoluto com o teor do post. Até porque o contexto que correspondeu à instalação desses pólos de Universidades Privadas é bem diferente hoje. A Figueira, na sua globalidade, não beneficiou muito com estes pólos. Os docentes eram convidados com critérios duvidosos (até o Hugo Marçal deu lá aulas...), vinham só receber um extra ao seu orçamento,faziam fretes ao Poder Local e não conheço reflexão científica sobre a nossa realidade. Aquilo era mais uma escola básica com nome pomposo de Universidade!
Totalmente de acordo. Aliás, julgo que a aposta qualitativa está precisamente na investigação pós-graduada com forte relação externa. Só assim haverá credibilidade científica e resultados práticos dos investimentos públicos e privados.
Parece-me também que a formação terá de ter em conta os potenciais endógenos e os objectivos regionais de desenvolvimento. Na realidade, faz bem mais sentido desenvolver aqui projectos para o aproveitamento dos recursos marinhos do que no Alentejo ou em Trás-os-Montes. Talvez seja por não entendermos isto que o ensino superior em Portugal está tão desestruturado.
O comentário do Bergas revela desconhecimento da realidade (com todo o respeito!). A maioria dos professores das privadas são das públicas? Por acaso conhece o decreto lei de 1999 que proibe os docentes das públicas de coordenar cursos nas privadas? Os docentes com exclusividade nas públicas (os que de facto mais investem na investigação) só podem leccionar até 4 horas semanais em acumulação e numa única universidade para além daquela a que pertencem.
Há 5 anos para trás concordo. Até 1999 as privadas eram fábricas de fazer dinheiro, para os accionistas e para os turbo-professores das públicas, que por isso mesmo, não faziam investigação e só podiam produzir cursos de papel e lápis.
A Figueira está vocacionada para o Turismo, não tem tido é autarcas e universidades que defendam e rentabilizem essa vocação.
O Bergas até pode estar a pecar por excesso, mas o que o Inefável não poder negar é que muitos dos professores na privadas são também professores nas públicas, até porque a lei permite isso.
Por isso não vejo onde é que está o desconhecimento da realidade.
Se a Sónia Pereira conseguir dizer qual é a percentagem calar-me-ei. O pior é que actualmente (desde 1999) a percentagem é irrisória. E os poucos que leccionam nas privadas são os turbos professores que em nada contribuem para a investigação científica.
O problema, porém, não é esse. As privadas deveriam ter nos seus quadros professores só das privadas, em exclusividade, doutorados, com créditos firmados, para desenvolver unidades de investigação nas privadas. Porque até há universidades privadas (poucas é certo, o que é uma pena) que têm laboratórios e fazem investigação. Mas nessas, quem trabalha nos laboratórios são professores só das privadas e bolseiros de investigação.
Deveria haver universidades privadas, só que o estado não as apoia e as autarquias também não. Por acaso já visitou as instalações da Universidade Internacional da Figueira da Foz? E não é à Câmara que competem as obras de estrutura, a fazer fé ao que saíu nos órgãos de comunicação social?
Eu acho que há muita gente que fala sem saber... É errado colocar no mesmo saco as duas universidades existentes na Figueira da Foz! Chega até a ser uma falta de respeito para os alunos e corpo docente da Universidade Católica Portuguesa... Eu, na qualidade de antigo aluno, posso orgulhosamente afirmar que o corpo docente da UCP-FF é de uma qualidade inigualável e que se encontra alguns "furos" acima dos docentes que leccionam nas universidades públicas! Mas, só isso não basta para manter uma universidade aberta... Convém também dizer, em tom de lembrança, que conheço muita gente que está de momento desempregada e que não conheço algum antigo aluno da UCP-FF que se encontre nessa situação...
O que o Ricardo disse é que não tem razão de ser. Também eu fui aluno da UCP da FF e não me esqueço das condições em que trabalhámos. Deve esquecer-se das lutas que travamos para que haja instalações com laboratórios condignos. Que tipo de formação conseguimos ali que não seja idêntica à da outra universidade?... onde estão os tais grandes formadores?... além disso, empregos bons não são para todos mas para quem tem conhecimentos e cunhas políticas. Certo??!
A autarquia é que nada faz para apoiar as Universidades da Figueira.
Eu continuo a achar que infelizmente as pessoas ainda se guiam mt pelo "nome" das instituições e criticam, mas tb n fazem nada! Axo q há que relevar tb o tempo de vida das universidades... Para mim o principal erro das privadas e n só da UIFF, é permitirem entrar os alunos com baixa média, mas diga-se de passagem q há médias exorbitantes, e dp ou se vai para privadas ou para outro país! Li há tempos um relatório de avaliação acerca da UIFF q dizia exactamente isso e aqui dx:" À Universidade Internacional da Figueira da Foz (UIFF) chegam alunos com uma deficiente preparação, que acaba por se reflectir num elevado insucesso escolar em algumas disciplinas. As reprovações chegam a atingir valores na ordem dos 90 por cento." Para mim é esta a principal lacuna, mas esses alunos que entram com fracas notas tb não conseguem sair, ou seja entram facilmente mas dificilmente saem... Quanto a dizerem que as públicas são boas e as privadas n , no msm excerto diz o seguinte :"A Universidade Internacional da Figueira da Foz (UIFF) tem desenvolvido relações com várias empresas, o que lhe permite dispor hoje em dia de uma significativa bolsa de estágios não curriculares para os alunos que terminam a licenciatura em Gestão. Os empregadores não notam diferenças de capacidades entre os licenciados pela UIFF e os licenciados pela universidade pública" Há que ter tb em conta os anos de vida das universidades e os apoios às mesmas, não podemos comparar uma universidade de coimbra com a internacional exactamente pq a de coimbra já existe há imenso tempo, e de certeza que quando começou não era nada do que é hoje! Eu estudo na Internacional, e não fui para uma pública pq não quis, tenho óptimos professores e gosto mt de lá estar e em relação ao emprego não é um problema só das privadas, é do país inteiro... Acho que há que acabar com as comparações, e dx de falar mal, mas sim fazer algo para melhorar... E quanto ao que diz o Ricardo se é falta de respeito para vocês tb o é para os da Internacional, pq sem dúvida tem excelentes professores, e sim tb tem os n tao bons... mas isso n m venham com histórias q se verifica em todas as universidades! Por fim, considero que os alunos aplicados sejam de públicas ou privadas terão smp o seu mérito reconhecido!
Seria interessante que as pessoas que se dizem defensoras dos interesses da Figueira da Foz, ao invés de criticarem negativamente sem estarem devidamente informadas, criticassem positivamente, propondo soluções e quiçá integrarem movimentos civicos ou politicos onde com a mesma força que têm para criticar, pudessem de facto alterar o estado das coisas.
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